De forma a salientar o facto de esta ser a única candidatura a apresentar oito mulheres candidatas em primeiro lugar nas listas, sete a presidentes de Junta e uma como candidata a presidente da mesa da Assembleia Municipal de Coimbra, a coligação promoveu o percurso “Coimbra das Mulheres”.

Com início no Polo I da UC, o passeio – desenhado por Pedro Peixoto – que juntou algumas das mais de 150 mulheres que integram as listas mega coligação, percorreu parte da Alta e da Baixa da cidade e terminou em frente à fachada do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha.

Cada uma das mulheres associadas à história Coimbrã foi apresentada pelas candidatas Juntos Somos Coimbra

Infanta D. Sancha

Segunda filha do rei D. Sancho I de Portugal e D. Dulce de Aragão, Sancha nasceu entre 1178 e 1183 no Paço Real de Coimbra e morreu em 1229, no Mosteiro de Santa Maria de Celas por si fundado, tendo sido sepultada no Mosteiro do Lorvão onde a sua irmã D. Teresa era abadessa. Com uma vocação religiosa muito forte, Sancha consagrou parte da sua vida ao cuidado de enfermos pobres e peregrinos. Teve como possível pretendente o rei inglês João Sem Terra, mas, segundo os seus biógrafos, a sua castidade era inviolável, sendo que “mais facilmente se deixaria morrer no fogo, ou no mar com uma pedra ao pescoço, ou fazer seu corpo em pedaços cortando um por um os seus membros, do que casar com homem mortal”.

Domitília de Carvalho

Domitila Hormizinda Miranda de Carvalho nasceu em 1871 em Travanca da Feira (Aveiro). Em 1891, com 20 anos de idade, solicita às autoridades académicas autorização para se matricular no curso de Matemática da Universidade, tornando-se na primeira mulher a ingressar no ensino superior em Portugal. Ironicamente, no ano seguinte era publicado o seguinte texto, de D. António da Costa, um dos autores que mais se bateu pela expansão do ensino primário feminino:

 (…) a emancipação política e científica não é um princípio natural da mulher. Outras carreiras lhe podem ser destinadas, outras fontes lhe devem ser abertas; esta não. Creio que se lhe opõem a sociedade, e a natureza (…) Cumpre à mulher educar o homem, não lhe cumpre ser educada como ele. Mesmo quando a natureza lhe não vedasse as qualidades políticas e científicas, a mulher que seguisse essas carreiras masculinizar-se-ia, teria de endurecer o coração para afrontar o duro coração do seu adversário, teria de enodoar-se nas intrigas eleitorais, de corromper-se na luta prática das assembleias políticas, de converter as doces qualidades do sentimento no rancor das paixões (…)

Domitila concluiria não um, mas três cursos na Universidade: Matemática, Filosofia e Medicina. Dedicou a sua vida à medicina, ao ensino liceal, e também à política, tendo sido umas das primeiras deputadas eleitas em Portugal, já no Estado Novo.

Carolina Michaëlis

Karoline Wilhelma Michaëlis de Vasconcelos nasceu em 1851 em Berlim, Reino da Prússia. Filha de Gustav Michaëlis, professor de matemática, e Henriette Louise Lobeck. Com uma aptidão rara para o estudo das línguas, sobretudo as românicas, é contratada aos 16 anos pela Casa Brokhaus de Leipzig como revisora de Espanhol e Português. Em 1872 tornou-se tradutora e intérprete do Município de Berlim e do Ministério de Negócios Estrangeiros da Prússia e, quatro anos depois, casa com o historiador português Joaquim de Vasconcelos, com quem já trocava correspondência desde 1872. Em 1911, com a criação da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Carolina Michaëlis tornou-se na primeira mulher a exercer um cargo de professora universitária com uma cátedra em Filologia Românica. Foi designada por Mendes dos Remédios, também insigne professor da Faculdade de Letras, como “fada benéfica” do estudo das letras portuguesas, “a grande maga”, a “nossa querida mestra”, a “imortal mestra”, a “sagaz esmerilhadora dos textos”, cumulada de erudição.

Sebastiana da Luz

Nascida no Bairro Alto de Coimbra, Sebastiana Maria da Luz era filha de Domingos Álvares, mercador, e Joana Rodrigues. Com a morte do pai, em 1728, Sebastiana fica à frente de um dos seus negócios, uma pequena mercearia, que manterá durante toda a sua vida. No entanto, seria a concessão de crédito o seu principal investimento, tornando-se uma verdadeira mercadora de capitais, e que lhe permitiu quadruplicar a herança que recebera, sendo que, à data da sua morte, a 24 de Maio de 1754, a sua fortuna rondava os 4 milhões de réis. Viveu com desafogo em casa própria, dormindo em leito de armação, vestindo boas saias e mantilhas, adornando-se com cordões e brincos de ouro e pérolas, servida pelas suas criadas, sendo talvez odiada pelos que lhe pediam dinheiro e a ouviam exigir como penhor as argolas da mulher ou o cordão da filha.

Vataça Lascaris

Filha da princesa bizantina Eudóxia Lascaris e do conde Guilherme Pedro Ventimiglia, Dona Vataça Lascaris terá nascido por volta de 1270, tendo vindo para o reino de Aragão ainda em criança com sua mãe e irmã, por consequência da morte do pai. Sendo parente em 7º grau com Isabel de Aragão, Vataça passou a sua juventude com a princesa Isabel, acompanhando-a no seu séquito de casamento como aia em 1282 para se casar com D. Dinis e se tornar rainha de Portugal. Diplomata, espia, tutora, senhora feudal, Vataça será uma das damas mais ricas e poderosas do reino português nos princípios do século XIV, e braço direito da Rainha Santa ao longo de toda a sua vida, tendo vindo viver os seus últimos momentos para junto da sua soberana no Paço Real de Santa Clara. Falece em Coimbra a 25 de Abril de 1336, a menos de 3 meses da sua amiga e rainha, que expia a 4 de Julho do mesmo ano em Estremoz.

Luísa de Jesus

Em abril de 1772 um escândalo estrondoso rebentou em Coimbra. Alguém denunciara Luísa de Jesus, uma jovem mulher de 22 anos, de matar os muitos enjeitados que ia buscar à Roda dos Expostos, administrada pela Misericórdia. Na casa da jovem, foram encontrados num pote de barro, “vários pedaços de cadáveres corrompidos, e fétidos, sem se poder divisar o seu numero senão por três caveiras que nele estavam. Debaixo de uma pouca de palha se acharam quatro cascos de cabeças com a carne comida, e um corpo de criança organizada, mas já corrupta. Ultimamente enterrados na mesma casa dez cascos de cabeças de inocentes sem o menor vestígio de outro algum osso”. Num processo inédito no Reino, julgado pelo intendente Pina Manique, foi decidida aquela que seria a última execução de uma mulher em Portugal. O veredicto dos juízes foi unânime: condenam a dita ré Luiza de Jesus a que (…) seja atenazada, e levada ao lugar da forca; e nele lhe sejam decepadas suas mãos: seja o seu corpo queimado, e reduzido a cinzas, para que nunca mais haja memória de semelhante Monstro (…) Lisboa, 1 de Julho de 1772.

Isabel de Aragão

Eu, Isabel, filha do Ilustríssimo D. Pedro, por graça de Deus, rei de Aragão, entrego o meu corpo como legítima esposa a D. Dinis, rei de Portugal e do Algarve (…).” Nascida a 11 de Fevereiro entre os anos de 1269 e 1271 no palácio real de Aljaferia, em Saragoça, Isabel era filha do rei Pedro III de Aragão e de Constança de Hohenstauffen de Nápoles. Elisabet, cujo nome significa “Deus jurou” e “Deus é plenitude, perfeição”, estava destinada a deixar a sua marca na História de Portugal. “A humildade, o desprezo do mundo, a moderação, a abstinência, a pobreza voluntária na outra gente, são simples virtudes; mas estas mesmas com uma coroa na cabeça, com um cetro na mão, debaixo de um dossel, e assentadas em um trono, são dobradas virtudes” (Padre António Vieira, Sermão da Rainha Santa Isabel)

Inês de Castro

Toldam-se os ares

Murcham-se as flores:

Morrei amores,

Que Inês morreu.

Mísero esposo,

Desata o pranto,

Que o teu encanto

Já não é teu (…) (Bocage, in Rimas, 1799)

D. Inês Pires de Castro nasceu na Galiza, em local, ano e mês desconhecidos. Filha bastarda de D. Pedro Fernández de Castro com D. Aldonça Suárez de Valadares, veio para Portugal nos finais de 1340, integrando o séquito de D. Constança Manuel, que vinha desposar o príncipe D. Pedro, filho do rei D. Afonso IV. Cabelos louros, elegante, rosto fresco e pescoço que lembrava o de uma garça, foi paixão à primeira vista para o infante português, que se enamorou dela pouco depois de ter chegado a Portugal. Amor sublime e trágico, inspirador de poetas e trovadores durante séculos, que teria um desfecho fatídico naquele Janeiro de 1355, em que as razões de Estado triunfaram sobre a maio

“A defesa da paridade de género e do papel essencial e diferenciador das mulheres na política são, para nós, matérias de prática, de convicção e de respeito, não de meras e vazias palavras ou simples cumprimento da lei. É na coligação Juntos Somos Coimbra que as mulheres podem encontrar a sua maior representatividade”, frisou José Manuel Silva no final do percurso.